de abraços de Natal!
22 de dezembro de 2008
6 de dezembro de 2008
Sobre a razão da razão
“Se ainda fosse só a guerra, em que as pessoas se enfrentam ou são obrigadas a se enfrentar... Mas não é só isso. Essa raia que no fundo há em mim, uma espécie de raiva às vezes incontida, é porque nós não merecemos a vida. Não a merecemos. Não se percebeu ainda que o instinto serve melhor aos animais do que a razão serve ao homem. O animal, para se alimentar, tem que matar o outro animal. Mas nós não, nós matamos por prazer, por gosto. (...) Não usamos a razão para defender a vida, usamos a razão para destruí-la de todas as maneiras – no plano privado e no plano público.”
José Saramago, 86, prêmio Nobel de Literatura em 1998
S.P., 28/11/2008
Ai...
21 de novembro de 2008
Pra dar vontade de ler
No virtual, gosto dos blogs, dos sites, das leituras curtas. Leio contos e poemas pela tela, mas se tiver a opção de escolher, levo o calhamaço de páginas costuradas para o sofá e ali me estico toda. Passo horas sem ver o tempo passar.
A relação das pessoas com os livros varia, mas pra mim é quase um ritual de que fazem parte o cheiro, a textura, o barulho das páginas sendo viradas, o peso do volume e a possibilidade de rabiscar os trechos mais importantes. Adoro rabiscar livros. Meus preferidos são repletos de sublinhados, setinhas e anotações.
Hoje, navegando pela web, dei de cara com um site que não sei se é novo (pra mim é novidade) e que é uma baita idéia bem-bolada pra divulgar obras literárias: o LivroClip.
Eles (não sei quem são, mas estão de parabéns) montam trailers de livros com uma pegada atraente à beça. Em vez de ficar aqui tentando explicar, vou postar o trailer de Dom Casmurro. Olha só como modernizaram a obra-prima de Machado:
17 de novembro de 2008
A culpa é da televisão
Num tom um tantinho exagerado, disse que a tv é responsável pela "degradação das famílias brasileiras". (Tudo bem que a programação da TV aberta não presta lá pra grande coisa, mas...)
Aí, fiquei pensando quem seria responsável por aquilo: o excesso de botox, ou o de televisão?
16 de novembro de 2008
A ave rara
O senhor de biotipo britânico observava, fazia peguntas e, quando o proprietário do negócio fazia graça, ria inclinando o tronco para trás . Em meio a conversa, perguntou se havia chegado o cinzeiro italiano para cachimbos que vira da última vez. O dono da tabacaria procurou, revirou as prateleiras, e nada. Mandou, então, chamar Léa, a gerente.
Responsável pelo andamento do negócio, a moça ruiva desceu do escritório, parou em frente ao patrão, ouviu seu pedido para que procurasse o cinzeiro, foi até o outro lado da loja e voltou com o objeto prateado e oval.
Enquanto Léa fazia a busca, o senhor de ar britânico permaneceu estático, observando-a. Quando ela chegou, percebeu que o homem a olhava insistentemente e sentiu-se incomodada. Já tendo atendido ao pedido do patrão, pediu licença, mas quando ensaiava voltar ao escritório, sentiu a mão do homem a lhe segurar o braço e puxar com vigor.
Como quem fala sobre a excentricidade de uma ave incomum, comentou com o patrão da moça, apontando para o vermelho de seus cabelos:
- Meu caro, devo lhe dar os parabéns. Você tem em sua loja uma espécime rara, melhor dizendo raríssima. Os ruivos estão em extinção.
6 de novembro de 2008
O derrubador de barreiras
Vai que é tua, Barack!
5 de novembro de 2008
Eu gosto desse Hussein
30 de setembro de 2008
About us!
"...I am who I am, who I am, who am I
Requesting some enlightenment
Could I have been anyone other than me?
And thrill at it all
Dark clouds may hang on me sometimes
But I'll work it out then I
31 de agosto de 2008
Do suicida na torre aos peladões no parque francês,
pílulas da semana
E se me perguntassem o que é o amor, eu diria que é essa coisa que ligava dona Stella Maris e seu Dorival – o Caymmi, aquele mesmo. Nessa quarta-feira que passou, onze dias depois de ele ter partido, ela foi também. Setenta anos de vida em comum fazem de duas pessoas uma só e, se ninguém segue adiante pela metade neste mundo, parece que no de lá também não. Caymmi veio, todo de branco e bem disposto, chamar sua musa de pseudônimo Stella pra fazer poesia estelar.
Mudando de assunto – este post tá meio mórbido –, MacCain anunciou quem será sua candidata a vice pelo partido Republicano: uma tal Sarah Palin, ex-prefeita da cidadezinha de Wasilla, no Alasca – onde aos vinte e poucos anos foi miss – e atual governadora daquele Estado. Tem 44 anos, cinco filhos, é contrária ao aborto e é membro da National Rifle Association, organização que defende o direito ao porte de armas. Para completar o perfil, a candidata está sob investigação parlamentar no Alasca e um de seus filhos embarca como soldado para o Iraque no mês que vem. Sua figura somada à de MacCain, veterano de guerra, pode sugerir um prognóstico com cheiro de queimado.
27 de julho de 2008
Vidas cruzadas
São as histórias desses três personagens que fazem o filme Vidas Cruzadas –, Adrift in Manhattan (2007, EUA, Alfredo de Villa) no título original.
Na verdade o filme fala de superação. Superação da culpa, superação da posse, superação daqueles limites que o destino de todo mundo impõe.
Achei curto – uma hora e meia –, mas isso deve ser bom. Quando a gente acha que a história podia durar mais é porque é boa, porque prende. Gosto desse tipo de filme fala das emoções que a vida nos joga no colo.
É real e é triste. Triste porque trata daquele tipo de coisa que inevitavelmente cai sobre a gente e temos de lidar. Shit happens. E o que resta aos protagonistas da vida real é aceitá-las, superá-las e seguir adiante, tendo o inesperado bem ali, tatuado na biografia. É isso que dá a medida da alegria. E também é isso que faz da gente, gente.
Tô errada?
18 de julho de 2008
...
É que mudar dá trabalho. Mais trabalho ainda quando é um monte de mudança de uma vez - mas é bom, faz o despertador tocar diferente dentro da gente.
Dá também aquele aperto no coração de tudo o que a gente tem de abrir mão. E - essa é a parte que eu mais gosto - dá cócega no estômago. Adoro cócegas no estômago.
Volto logo mais!
20 de junho de 2008
Ser pedra
"É uma pena que com a troca de três olhares e cinco palavras nos precipitemos pintando o branco da figura alheia com cores inventadas", ele disse. "Essa criação fica sempre aquém ou além do que o outro é de fato."
Ele acha que as curvas desenhadas precipitadamente acabam borradas pelas sombras da verdade. Frustração entristece, frustração fortalece. "Fortalece?" Respondi que sim. "Toda coisa que faz sofrer fortalece?" "Acho que sim", eu disse. "Que pena, né..."
9 de junho de 2008
Cabeça de abóbora
Mas não existe conto de fadas além dos livros. Quer dizer, vai ver que até existe, mas nessa vida real o cronograma acaba embriagado e a princesa vira abóbora antes da hora.
Quando percebe, está em um baile onde se dança samba --nada contra samba, muito pelo contrário, mas a princesa só dança samba no estilo nórdico. Seu sapatinho se perdeu graças a um tropeção na escada, e o tropeção só aconteceu por conta dos excessos etílicos. Tais excessos são culpados, também, pelo ajoelhar-se no fim da noite.
Lugares onde se vende bebida alcoólica deviam ser todos planos, sem degraus. Naquele lugar, havia degraus --muitos. Por causa deles, a princesa virou abóbora bem ali: estatelou-se de joelhos, no fim da escada. Ao menos o príncipe foi gentil entregando-a a salvo em sua morada.
No dia seguinte, hirudoid para o joelho, dramin para o estômago e uma vontade imensa de enfiar a cabeça para sempre dentro de uma abóbora.
18 de maio de 2008
Sono, saliva e meia-entrada
Tenho pânico de dormir em público desde aquele dia em que vi um cara babando no metrô. Todo mundo baba, mas foi nojento, coitado. Sua baba escorregava num fio que descia em câmera lenta da boca até o ombro. Levou uns dez segundos e eu nunca mais me esqueci. Quando a baba encostou no ombro ele acordou, limpou-se e deu uma olhadinha em volta, com cara de quem pede pelo amor de Deus pra que ninguém tenha visto seu momento de intimidade babenta no vagão lotado. Olhei pro teto em respeito à vergonha alheia, mas a baba daquele sujeito ficou gravada na minha memória.
Foi essa lembrança que me manteve acordada no cinema. Em nome da minha dignidade pública, não dormi assistindo O sonho de Cassandra. Ainda bem que eu pago meia.
Reforma
Precisava escolher uma imagem para o fundo do título. Pega aquele cartão com O nu deitado, do Picasso, grava no formato certo, põe. Ficou grande, volta e grava menor, copia, baixa no blog, ok. Agora, muda a cor da letra do título, preto tá feio, tenta o laranja. Bom, melhor laranja, agora sim, combinou. Aumenta letra, dá pra alinhar à direita? Comandos, comandos, não, não deu. Deve dar, mas não sei como faz, tudo bem, deixa assim. Pinta o fundo da barra do título pra ficar igual à cor do fundo do blog, cinza clarinho. Pronto. Ficou bom, mas sobraram bordinhas. Saco, como faz pra apagar essas bordinhas? Não sei, deixa assim com bordinhas, são pequenas, são micro-bordinhas.
Agora põe na data dos posts o laranja também, esse cor de vinho não tem nada a ver. Pronto. Agora o ladinho ali. Adoro Gotan Project, mas enjoou faz tempo essa capa do CD ali do lado. O que eu vou por? Fotos. Quais? Não quero fotos minhas, são todas coloridas, quero fotos em preto e branco. Ah, tem as da exposição do Pierre Verger, O Japão de Pierre Verger. Procura. Achei. Corta uma por uma, carrega, acha links, baixa no blog. Ficaram grandes. Volta, diminui, mas tem que deixar todas na mesma largura. Ufa, deu certo. E deu trabalho. Mas é assim mesmo, né, mudar dá um trabalho...
10 de maio de 2008
Meu diploma da Nasa
- Você viu que legal? Tem um site em que a gente pode escrever o nome pra Nasa gravar num chip e mandar pra Lua!
Ele riu.
- E...? Pra que mandar o nome para a Lua? – o Luiz é o cara mais prático que eu conheço.
- Pra nada, ué, pra mandar pra Lua só. Se eu não posso ir pra Lua, pelo menos meu nome vai...
Ele riu mais.
- ...ou, de repente daqui mil anos a Terra nem existe mais e algum ET encontra, perdido no meio do lixo estelar, um chip com milhões de nomes...eu quero que o meu esteja lá. Você não quer?!
Ele respondeu, prático:
- Não.
Eu devia ter uns dez anos quando deitava na grama de um sítio e passava horas com meu pai olhando o céu de Águas de São Pedro. A gente conseguia enxergar cada meteoro que rasgava o céu: estrela cadente. Fechava os olhos e fazia pedido. Eu pirava olhando aquele universo imenso, sem começo nem meio nem fim. Nessa época, queria ser astrônoma.
Mandei meu nome para a Nasa. Espero que eles mandem mesmo o tal chip para o espaço. Ganhei até diploma, com número de registro e tudo, ó:
9 de maio de 2008
Jogo das 8 coisas
- Tocar piano tão bem quanto vovó
(essa vontade é da categoria das impossíveis porque demorei. Ninguém que aprenda piano aos 30 vai tocar Pour Elise como se fosse Chopin)
- Uma casa em Guaecá com quartos suficientes pra acomodar um monte de gente ao mesmo tempo
- Uma horta onde eu possa plantar beterrabas e alface crespinha
- Passar um ano na França
- Conhecer Cabul e Bagdá (é sério, quero)
- Parar de fumar para sempre
- Voar de balão (dentro da cestinha e com alguém que entenda do riscado pra garantir que eu volte)
- Me apaixonar todo ano pelo mesmo cara
Agora eu indico oito pessoas pra realizar a tarefa. Cada uma terá que indicar mais oito e assim, sucessivamente, a gente vai fazendo uma enorme corrente virtual de desejos. Os escolhidos são o Ricardo C., o Cacau, a Jovana, a Sabrina, a Carol, o Kimda, o Alê e o Guilherme.
6 de maio de 2008
Até o capeta tem coração
É que um jornal árabe publicou partes de um certo diário que Saddam teria escrito enquanto esteve preso. Entre tantas pirações – ele tinha medo de pegar aids caso suas roupas fossem postas no varal junto às dos soldados americanos –, ele deu mostras de lirismo, acredita? O sujeito escrevia (ou achava que escrevia, não sei, não li) poemas!
Segundo quem leu os versos, dirigidos a uma anônima, sua poesia era imatura e enjoativa – mas tudo bem, o que vale é a intenção.
Fiquei pensando: que coisa, até o capeta tem coração...
27 de abril de 2008
Cabul estava agitada
Ontem começou a Virada e são 24 horas com um monte de coisas de graça para o povo fazer como passear ver filme e ouvir música
Mas normalmente quando junta um monte de gente acaba dando confusão então todo mundo esperava um bafafá alguma coisa ruim porque coisa ruim é o que dá audiência diversão também dá mas quanto mais trágico mais gente quer saber afinal a tristeza alheia engorda o ibope conforme tranqüiliza nossa solidão
Então este ano a Virada foi uma Virada sem lead porque foi uma Virada sem desgraça, nem um lead sem graça essa Virada virou
Virada gozada fugiu do que todo mundo esperava porque ano passado essa mesma Virada todo mundo manchetou
Teve mano e polícia a multidão em desordem e pancadaria num show
E eu lá pensando “ai que coisa monótona” e o povo dizia “está tudo tão tranqüilo que até encostei no chafariz pra ver os Mutantes ‘eu vou sabotar vou casar com ele vou trepar na escada...’ tocando aquela que a Cássia Eller gravou”
E eu lá bem sentada comecei a achar que não renderia nem chamada aquele tal de “alô está tudo calmo até agora somente ocorrências à toa” logo ontem que tomei tanto café pra ficar de pé
Mas era para todo mundo achar bom Virada sem confusão, não era?
Cabul estava agitada Karzai saiu ileso do ataque enquanto comemorava 16 anos da queda de outro governo afegão
Eu viro a noite e chego assim acelerada e quem sofre é você que lê o resultado de um monte de palavra guardada porque não deu lead a Virada não teve Brown e show com pancada aquele show que ano passado todo mundo todo mundo manchetou...
23 de abril de 2008
O Jô Soares...
9 de abril de 2008
Chávez quer expulsar
Os Simpsons da Venezuela
Só uma criatura chata desde feto mandaria tirar do ar o desenho d’Os Simpsons, transmitido por uma TV privada da Venezuela em horários matinais.
A Comissão Nacional de Telecomunicações daquele país argumentou que o programa não estaria “apto para crianças”. Como assim??
Uma diversão a menos para los hermanos y sus niños. Ponto pra ranzinzice chavista.
Na matéria, publicada pela agência Ansa nesta terça (8), o presidente não foi citado, mas alguém duvida de quem teria partido a ordem?
4 de abril de 2008
2 de abril de 2008
Quereres
- Afinal, o que você quer?
- O quê, não sei, mas posso te dizer quanto.
- Então?
- Ah, meu bem, quero muito, muito mais que isso.
- Já é alguma coisa...
28 de março de 2008
23 de março de 2008
El perro español
21 de março de 2008
16 de março de 2008
Comunicação é tudo
- Oi, eu sou freela da noite, esqueci meu crachá, o senhor me libera?
- Onde a senhora vai?
- No sexto andar...
- Falar com quem?
- Não, esqueci o crachá, é só digitar meu RG e me liberar um crachá provisório.
Eu estava atrasada. A pressa borra a clareza das pessoas – não sei se de todas as pessoas, mas a minha, borra. Devo ter falado muito rápido porque ele ficou me olhando com cara de “hã?”. Vinte segundos depois, repetiu:
- Mas com quem a senhora veio falar?
- Não, vim trabalhar, digita meu RG, eu sou freela...
Concentrou-se na tela enquanto apertava a setinha “para baixo” no teclado do micro. Não digitou meu RG, só clicava na setinha. Sem tirar os olhos da tela, balbuciou:
- Sofrila...Sofrila... senhora, não tem ninguém com esse nome, não...
10 de março de 2008
Vulgar
Ele tem saudade da inconseqüência que dava ritmo ao seu engatinhar. Era imensa e sem malícia a inconseqüência de criança. Olhava para cima e desejava as nuvens. Sonhava em crescer porque acreditava que aí então poderia agarrá-las com as mãos. Bastaria aguardar o tempo, só tinha de esperar...
Inevitável, cresceu. E sente saudade.
Ele tem saudade porque descobriu que o céu está mais distante. Se ganhou do tempo idade para saltar de pára-quedas e, em queda livre, atravessar nuvens, recebeu também um ônus. Madura, sua inconseqüência tornou-se comedida e extremamente vulgar.
3 de março de 2008
25 de fevereiro de 2008
"Ants Marching"
Dave Matthews Band. O clipe aí de cima é de “Ants marching” e foi gravado no Central Park, não sei quando.
Eu, que sou menos globalizada, vi os caras pelas bandas de cá mesmo, no Rock in Rio de 2001. Acabou de fazer sete anos e não me esqueço do show! Tocaram no mesmo dia que Neil Young, antes dele fechar a noite.
Nesse clipe, o vocalista (que dá nome à banda) arrisca uns agudos e desafina...mas ele pode, nem dói o ouvido. Vale prestar uma atenção especial no baterista, Carter Beauford, que manda muito bem. E a letra vai copiada aí embaixo, “Ctrl C / Ctrl V” do site oficial. Hope you enjoy...
He wakes up in the morning
Does his teeth bite to eat and he's rolling
Never changes a thing
The week ends the week begins
She thinks, we look at each other
Wondering what the other is thinking
But we never say a thing
These crimes between us grow deeper
Goes to visit his mommy
She feeds him well his concerns
He forgets them
And remembers being small
Playing under the table and dreaming
Take these chances
Place them in a box until a quieter time
Lights down, you up and die
Driving in on this highway
All these cars and upon the sidewalk
People in every direction
No words exchanged
No time to exchange
And all the little ants are marching
Red and black antennas waving
They all do it the same
They all do it the same way
Candyman teasing the thoughts of a
Sweet tooth tortured by the weight loss
Programs cutting the corners
Loose end, loose end, cut, cut
On the fence, could not to offend
Cut, cut, cut, cut
Take these chances
Place them in a box until a quieter time
Lights down, you up and die
20 de fevereiro de 2008
18 de fevereiro de 2008
Tenham todos uma ótima semana!
Desenho: Marcel Gotlib e Alexis*
revista Piauí, fev. 2008
"A dama das Camélias" - parte 2, p. 60
*desenhistas, publicaram a adaptação
do livro de Alexandre Dumas Filho
na revista Pilote.
16 de fevereiro de 2008
Perturba-se?
Que coisa, um nome assim curtinho, rápido: “arte”...faz parecer fácil materializar as perturbações, embelezá-las.
Nietzsche, Van Gogh, H. Bosch, Beethoven, Baudelaire, Pagu, Picasso, Tom Jobim, Vinícius, Billie Holiday, Elis, Andy Warhol, Machado, Lispector, Nelson Rodrigues, Sylvia Plath; Kurt Cobain, o trio Jimmy, Janis e Jim; Tom Zé, Rita Lee, Cazuza, Münch etc. etc. etc.
Se o cara não chegar ao estado de perturbação, precisa ao menos ser exagerado*. Sacanagens de primeira, bares, noites, paixões e ópios entremeados pela inspiração.
No fim, submerge. (Depois, recomeça tudo, mas sempre há fins e em cada um deles submerge.)
Porque transmutar exagero em arte exige concentração, demanda alguma solidão e muito empenho.
* Todo perturbado/exagerado tem potencial artístico, mas nem todo artista é perturbado/exagerado, e nem todo perturbado/exagerado transforma o que sente em arte.
11 de fevereiro de 2008
Porqué esperar para cambiar?
En el mundo habrá un lugar
para cada despertar
un jardín de pan y de poesía
Porque puestos a soñar
fácil es imaginar
esta humanidad en harmonía
Vibra mi mente al pensar
en la posibilidad
de encontrar un rumbo diferente
Para abrir de par en par
los cuadernos del amor
del gauchaje y de toda la gente
Qué bueno che , qué lindo es
reírnos como hermanos
Porqué esperar para cambiar
de murga y de compás.
Gotan Project - Diferente
(Eduardo Makaroff)
7 de fevereiro de 2008
Estudante afegão é condenado
à morte por fazer pensar
Esse menino aí na foto tem 23 anos e é estudante de jornalismo. Se ele vivesse em qualquer outro lugar que não o Afeganistão seria mais um universitário encantado com as possibilidades que o debate de idéias proporciona.
Acontece que ele é afegão e por isso – só por isso – foi condenado em 22 de janeiro à pena de morte após distribuir aos colegas de classe na Balkh University um artigo que põe em debate os argumentos dos fundamentalistas, que usam passagens do Alcorão para justificar a opressão aplicada às mulheres afegãs. O texto questionaria a poligamia e afirmaria que os muçulmanos ultraconservadores só encontram tal justificativa por manipularem as palavras do profeta Maomé, forjando a interpretação "oficial".
O rapaz, Sayed Pervez Kambaksh, distribuiu o artigo a colegas e professores com o intuito de provocar o debate sobre o tratamento dispensado às mulheres no Afeganistão. Foi o suficiente para, sem mais nem menos, ser levado por autoridades supostamente defensoras do islamismo, preso e condenado à morte – tudo isso sem direito de defesa.
Grupos de direitos humanos ligados à ONU, organizações jornalísticas e diplomatas ocidentais já apelaram às autoridades afegãs para que anulem a pena de morte, mas o Senado do país não arredou pé.
O jornal britânico The Independent levantou bandeira em prol da revisão da pena (a matéria original, publicada em 31 de janeiro, pode ser vista aqui). Montou um abaixo-assinado no site que pode salvar a vida desse cara codenado por tentar fazer pensar. Segundo o The Independent, a execução de Sayed Pervez Kambaksh ainda pode ser revertida desde que haja suficiente pressão internacional sobre o presidente afegão, Hamid Karzai.
É bom lembrar que esse absurdo está acontecendo em um Afeganistão que, em tese democrático, deveria no mínimo se mostrar menos totalitário seis anos depois de “liberto” da insanidade taleban. Que o mundo está do avesso não é novidade, mas daí a matar uma pessoa que só quis levantar um questionamento é loucura demais, é maldade demais.
Quem contribuir com esse abaixo-assinado estará fazendo um bem para a humanidade. Só milhares de Sayed´s podem mudar o rumo da História afegã. Assina, vai? Basta colocar nome, e-mail e país.
A notícia atualizada pode ser vista aqui, na FOL desta quinta, dia 7.
*Imagem: Reuters
1 de fevereiro de 2008
Sorri, colombina
Saiu para pular o carnaval com coração de colombina que se perdeu do pierrô. O sorriso é parte da fantasia. Corpo e alma calibrados, caminha rumo à avenida.
Cada lantejoula, cada pedacinho de cetim com paetê rosa e branco, tudo nela foi minuciosamente arranjado para que ficasse perfeito, da maquiagem profunda às pestanas postiças.
De samba decorado e espírito embriagado toma seu lugar no enredo. Nessa hora – só nessa – brinca que o pierrô perdido já não mais existe senão no passado.
Segue a bateria para saturar a alma, para deixá-la por instantes sem espaço para mais nada além da percussão.
Roda, gesticula, sorri para a arquibancada um sorriso para ninguém. Quem olha vê a alegria encarnada na colombina a carnavalizar.
Melhor assim. Não quer revelar que em verdade só pisou na avenida para não lembrar.
17 de janeiro de 2008
Orwell, Huxley e a genética da Microsoft
O sistema deverá conectar o coitado do empregado ao micro por sensores sem-fio, que farão registro de seu desempenho no emprego por meio da medição dos batimentos cardíacos, da temperatura corporal, da pressão arterial e das expressões faciais (!!). O monitoramento seria acompanhado em tempo real pelas chefias – que estariam, assim, aptas a ajudar ou carcar os funcionários se o programa registrasse qualquer variação fisiológica que pudesse indicar desempenho aquém do desejado. O robozinho dedo-duro wireless ainda seria capaz de detectar sintomas de estresse e frustração.
Impossível não relacionar esse sistema com o “Big Brother” – o original, aquele imaginado por George Orwell no livro “1984”, traduzido na edição que surrupiei do meu pai há oito anos como “Grande Irmão”. A matéria publicada no britânico Times Online faz o paralelo logo na primeira linha, já no Jornal da Globo a notícia foi dada sem menção ao livro.
Invasão de privacidade monstra, robotização geral. Imagina se isso pega? A moça iria trabalhar toda contente porque o Zé telefonara. O sistema detectaria em sua expressão facial um riso à-toa e um aumento dos batimentos cardíacos de tempos em tempos – isso quando ela pensasse em Zé, mas o sistema não teria como saber no que ela estava pensando. Um minuto depois, seu patrão careca, gordo e de bigodes fartos iria convocá-la. Conseguiria explicar-se para em seguida ouvir que estava demitida. Por justa causa. “Ora essa, o problema do ser-humano é insistir nas emoções", sentenciaria o chefão. "A senhorita precisa aprender a dominar as suas, do contrário não vai parar em emprego algum.” Emoções seriam justa causa.
Em “1984”, o 'profeta Orwell' – um Nostradamus rebelde – conta a história de uma sociedade que é monitorada o tempo todo pela figura do “Grande Irmão”. Quem vive nela passa por uma lavagem cerebral ininterrupta e não possui qualquer direito individual. Liberdade, democracia e distribuição do poder são coisas do passado, de tempos em que predominava um regime classificado malévolo e desordenado.
Se você não leu, leia porque é uma viagem. Aproveita e lê também “Admirável mundo novo”, de Aldous Huxley – um Nostradamus lisérgico. Se a engenharia genética cai na mão de algum insano neonazista, tudo o que pode acontecer está descrito na obra de Huxley. Aí, meu bem, só a base de Soma.
12 de janeiro de 2008
Haja saco!
11 de janeiro de 2008
Retrato de inocência
Enquanto aguardava o trem que me levaria até a Sé para a primeira baldeação, eu observava o povo ao redor. Do meu lado, um menino com cerca de doze anos conversava com outro mais ou menos da mesma idade. Um garotinho mais novo, de mãos dadas com o primeiro, observava a conversa dos dois. Este devia ter uns cinco anos, no máximo.
Menino 1 – ...andei de Bondinho, subi lá no alto. É mó aaaalto lá em cima, mas eu não fiquei com medo, não...
Menino 2 – Eu também vou no Bondinho quando meu pai me levar pro Rio. Ele prometeu...
Menino 1 – Eu estava com medo de bala perdida, mas você não precisa ter medo, porque enquanto eu estava lá não vi nenhuma bala perdida...
Menino 3 (de cinco anos) – Se eu levar balinha pro Rio e perder ninguém devolve?
Suspirei. “Ah, a inocência das crianças...”
7 de janeiro de 2008
O canto
Bem lá no fundo ela vive. Salgada.
Desliza em meio aos peixes, às pedras e aos restos de navios. Nas carcaças de ferro recobertas de algas é que se esconde quando um ou outro descuidado mergulha até lá. Acha graça na estranheza da figura que chega toda paramentada, soltando bolhas, usando roupa de neoprene, pés de pato e cilindro nas costas. Ali embaixo, eles precisam de oxigênio. “É o homem que carrega o cilindro ou o cilindro que carrega o homem?”
Acontece às vezes de subir à superfície para olhar o céu estrelado. Só sobe à noite, porque o sol machuca a pele branca, quase transparente. Prefere banho de lua, sobretudo se for cheia.
As noites inspiram-na. Então, ela canta um canto que quem já ouviu jura que hipnotiza. E deve mesmo, porque desde que o mundo é mundo os marinheiros perdem a cabeça com sua voz. Entregam-se às profundezas que guardam a lenda e não voltam nunca mais.
Se fosse eles, eu também me entregaria.