22 de dezembro de 2008

Novo ano novo!


Que 2009 seja repleto

de abraços de Natal!


6 de dezembro de 2008

Sobre a razão da razão

Não fui à sabatina da Folha com José Saramago, mas li o resumo publicado na Ilustrada de sábado passado. De tudo o que ele disse, de tudo o que ele pensa, um trecho me martela a cabeça há uma semana. É forte e angustiante. E definitivo. Definitivo – será?

“Se ainda fosse só a guerra, em que as pessoas se enfrentam ou são obrigadas a se enfrentar... Mas não é só isso. Essa raia que no fundo há em mim, uma espécie de raiva às vezes incontida, é porque nós não merecemos a vida. Não a merecemos. Não se percebeu ainda que o instinto serve melhor aos animais do que a razão serve ao homem. O animal, para se alimentar, tem que matar o outro animal. Mas nós não, nós matamos por prazer, por gosto. (...) Não usamos a razão para defender a vida, usamos a razão para destruí-la de todas as maneiras – no plano privado e no plano público.”

José Saramago, 86, prêmio Nobel de Literatura em 1998
S.P., 28/11/2008


Ai...

21 de novembro de 2008

Pra dar vontade de ler

Tem gente que gosta de se sentar em frente ao micro, abrir um livro em PDF e passar horas lendo. Em geral, a meninada de 16, 18 anos, até prefere essa leitura virtual aos livros de verdade. Eu, não.

No virtual, gosto dos blogs, dos sites, das leituras curtas. Leio contos e poemas pela tela, mas se tiver a opção de escolher, levo o calhamaço de páginas costuradas para o sofá e ali me estico toda. Passo horas sem ver o tempo passar.

A relação das pessoas com os livros varia, mas pra mim é quase um ritual de que fazem parte o cheiro, a textura, o barulho das páginas sendo viradas, o peso do volume e a possibilidade de rabiscar os trechos mais importantes. Adoro rabiscar livros. Meus preferidos são repletos de sublinhados, setinhas e anotações.

Hoje, navegando pela web, dei de cara com um site que não sei se é novo (pra mim é novidade) e que é uma baita idéia bem-bolada pra divulgar obras literárias: o LivroClip.

Eles (não sei quem são, mas estão de parabéns) montam trailers de livros com uma pegada atraente à beça. Em vez de ficar aqui tentando explicar, vou postar o trailer de Dom Casmurro. Olha só como modernizaram a obra-prima de Machado:

17 de novembro de 2008

A culpa é da televisão

Nesta segunda (17), o Lula esteve em São Paulo, no Clube Pinheiros, para uma solenidade do programa Bolsa-Atleta.

Subiu no púlpito e, apesar de logo de cara dizer a todos que ficassem tranqüilos porque não iria discursar, falou por meia hora. Sobre o Corinthians, sobre o desempenho do Brasil nas Olimpíadas, sobre o saque jornada nas estrelas do Bernard, que estava na platéia, sobre o exemplo para as aspirantes ao basquetebol dado pela Hortência, que estava sentadinha ao lado do Bernard, sobre cultura e educação...até que esculhambou a televisão brasileira.

Num tom um tantinho exagerado, disse que a tv é responsável pela "degradação das famílias brasileiras". (Tudo bem que a programação da TV aberta não presta lá pra grande coisa, mas...)

Enquanto eu ouvia o Lula, observava a dona Marisa, sentadinha fazendo sim com a cabeça, mas com o pensamento visivelmente loooooonge. Nunca tinha visto a primeira-dama pessoalmente. Suas maçãs do rosto são capazes de impressionar até os mais desatentos.

Aí, fiquei pensando quem seria responsável por aquilo: o excesso de botox, ou o de televisão?

16 de novembro de 2008

A ave rara

O dono da tabacaria mostrava a um de seus mais abastados clientes as novas aquisições. Charutos cubanos, cachimbos recém-chegados da França e um finíssimo fumo mentolado produzido na Alemanha.

O senhor de biotipo britânico observava, fazia peguntas e, quando o proprietário do negócio fazia graça, ria inclinando o tronco para trás . Em meio a conversa, perguntou se havia chegado o cinzeiro italiano para cachimbos que vira da última vez. O dono da tabacaria procurou, revirou as prateleiras, e nada. Mandou, então, chamar Léa, a gerente.

Responsável pelo andamento do negócio, a moça ruiva desceu do escritório, parou em frente ao patrão, ouviu seu pedido para que procurasse o cinzeiro, foi até o outro lado da loja e voltou com o objeto prateado e oval.

Enquanto Léa fazia a busca, o senhor de ar britânico permaneceu estático, observando-a. Quando ela chegou, percebeu que o homem a olhava insistentemente e sentiu-se incomodada. Já tendo atendido ao pedido do patrão, pediu licença, mas quando ensaiava voltar ao escritório, sentiu a mão do homem a lhe segurar o braço e puxar com vigor.

Como quem fala sobre a excentricidade de uma ave incomum, comentou com o patrão da moça, apontando para o vermelho de seus cabelos:

- Meu caro, devo lhe dar os parabéns. Você tem em sua loja uma espécime rara, melhor dizendo raríssima. Os ruivos estão em extinção.

6 de novembro de 2008

O derrubador de barreiras

O Obama está começando bem. Antes mesmo de completar dois dias como presidente eleito, conseguiu mais uma façanha i-na-cre-di-tá-vel. Hoje, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, deu a ele os parabéns pela vitória.

Vai que é tua, Barack!

5 de novembro de 2008

Eu gosto desse Hussein

Hoje é um daqueles dias que entram para a História. Obama foi eleito (thanks, God!), o que demonstra uma queda acentuada na neurose norte-americana, cá entre nós. Bom para eles, bom para todo o mundo. Até porque ele foi beeeem eleito, com 53% dos votos contra 46% de McCain - diferença de quase oito milhões...oito milhões de pessoas é gente pra cacete, né não?!

O fato de um negro ser levado ao posto de homem mais poderoso do planeta pela vontade popular norte-americana diz muita coisa.

Isso, somado ao fato de ele se chamar Barack Hussein Obama, mostra que a mentalidade dos filhos do tio Sam vem sofrendo uma profunda transformação. Amém. Que os anjos (n)os conservem mudando para melhor. Sempre.

30 de setembro de 2008

About us!

28/09/08


"...I am who I am, who I am, who am I
Requesting some enlightenment
Could I have been anyone other than me?

Sing and dance I'll play for you tonight
And thrill at it all
Dark clouds may hang on me sometimes
But I'll work it out then I

Look up at the sky..."

31 de agosto de 2008

Do suicida na torre aos peladões no parque francês,
pílulas da semana

Tenho um profundo respeito pelos suicidas em geral, mas na quarta-feira passada, quando teve gente levando três horas para fazer um caminho com que gasta 20 minutos, não deu pra segurar qualquer compaixão pelo sujeito que ameaçou pular de uma torre de energia da Eletropaulo. A empresa teve que desligar a rede elétrica de uma região da cidade para os bombeiros resgatarem o homem. Quando as avenidas ficaram atravancadas pela falta de sinal, os amarelinhos da CET apareceram, apitando e gesticulando sem parar, na tentativa de controlar a profusão de nervos motorizados que buzinava, enlouquecida. Parecia o fim do mundo. Dizem que quase meio milhão de pessoas foram afetadas – quem ficou parado no trânsito jura que pareceu mais. Por fim tudo acabou bem, o homem foi resgatado e no dia seguinte virou até manchete, com um apelido novo: “homem apagão”. Será que todo desespero é conseqüência de uma completa falta de amor?

E se me perguntassem o que é o amor, eu diria que é essa coisa que ligava dona Stella Maris e seu Dorival – o Caymmi, aquele mesmo. Nessa quarta-feira que passou, onze dias depois de ele ter partido, ela foi também. Setenta anos de vida em comum fazem de duas pessoas uma só e, se ninguém segue adiante pela metade neste mundo, parece que no de lá também não. Caymmi veio, todo de branco e bem disposto, chamar sua musa de pseudônimo Stella pra fazer poesia estelar.

E por falar em óbito, a agência de notícias Bloomberg deu uma bola fora capaz de derrubar mercado: publicou em seu site o obituário do presidente da Apple, Steve Jobs. Como se não bastasse, o texto ainda trazia nome e telefone de gente importante para repercutir a ida sem volta do executivo – quando ela acontecesse. Ele enfrenta problemas de saúde, mas é de praxe nas redações deixar prontas as biografias de personalidades mesmo quando vão bem. Sempre que acontece algo de novo na vida da pessoa, alguém vai lá e atualiza as informações. É por isso que especiais sobre a trajetória de gente importante vão ao ar rapidinho quando alguém passa dessa pra próxima. Sabe-se lá por quê, alguém pôs no ar o obituário do homem, que continua vivo e fazendo fortuna só de respirar.

Mudando de assunto – este post tá meio mórbido –, MacCain anunciou quem será sua candidata a vice pelo partido Republicano: uma tal Sarah Palin, ex-prefeita da cidadezinha de Wasilla, no Alasca – onde aos vinte e poucos anos foi miss – e atual governadora daquele Estado. Tem 44 anos, cinco filhos, é contrária ao aborto e é membro da National Rifle Association, organização que defende o direito ao porte de armas. Para completar o perfil, a candidata está sob investigação parlamentar no Alasca e um de seus filhos embarca como soldado para o Iraque no mês que vem. Sua figura somada à de MacCain, veterano de guerra, pode sugerir um prognóstico com cheiro de queimado.

Enquanto nos EUA as coisas caminham assim, meio para trás, meio esquisitas, a Europa vem com mais uma idéia pra frentex. A Apnel (Associação para a Promoção do Naturismo em Liberdade) está lutando para legalizar a permanência de peladões em locais públicos na França – ou, “fazer com que a nudez deixe de ser caracterizada como exibicionismo sexual, pelo menos fora dos centros urbanos”, segundo matéria da BBC Brasil. A presidente da Apnel explica que a associação foi criada “justamente para prestar auxílio financeiro” a quem é flagrado pela polícia passeando no parque peladão.

27 de julho de 2008

Vidas cruzadas

Uma mulher que tenta seguir adiante após perder o filho de dois anos. Um pintor que tem de lidar com perda da visão. Um rapaz de 20 anos cuja mãe impõe uma relação estranha, possessiva, mal resolvida.

São as histórias desses três personagens que fazem o filme Vidas Cruzadas –,
Adrift in Manhattan (2007, EUA, Alfredo de Villa) no título original.

Na verdade o filme fala de superação. Superação da culpa, superação da posse, superação daqueles limites que o destino de todo mundo impõe.

Achei curto – uma hora e meia –, mas isso deve ser bom. Quando a gente acha que a história podia durar mais é porque é boa, porque prende. Gosto desse tipo de filme fala das emoções que a vida nos joga no colo.

É real e é triste. Triste porque trata daquele tipo de coisa que inevitavelmente cai sobre a gente e temos de lidar. Shit happens. E o que resta aos protagonistas da vida real é aceitá-las, superá-las e seguir adiante, tendo o inesperado bem ali, tatuado na biografia. É isso que dá a medida da alegria. E também é isso que faz da gente, gente.

Tô errada?

18 de julho de 2008

...

Faz quase um mês que não escrevo uma linha, vi agora!

É que mudar dá trabalho. Mais trabalho ainda quando é um monte de mudança de uma vez - mas é bom, faz o despertador tocar diferente dentro da gente.

Dá também aquele aperto no coração de tudo o que a gente tem de abrir mão. E - essa é a parte que eu mais gosto - dá cócega no estômago. Adoro cócegas no estômago.

Volto logo mais!

20 de junho de 2008

Ser pedra

Ele queria ver as pessoas em branco. Telas virgens cujas impressões fossem pintadas no espaço vazio com tons de realidade, sem impressões, imprecisões ou achismos. Sem "quases".

"É uma pena que com a troca de três olhares e cinco palavras nos precipitemos pintando o branco da figura alheia com cores inventadas", ele disse. "Essa criação fica sempre aquém ou além do que o outro é de fato."

Ele acha que as curvas desenhadas precipitadamente acabam borradas pelas sombras da verdade. Frustração entristece, frustração fortalece. "Fortalece?" Respondi que sim. "Toda coisa que faz sofrer fortalece?" "Acho que sim", eu disse. "Que pena, né..."

Ele ficou ali olhando para mim sem me enxergar, olhando para mim e enxergando pensamentos. Em seguida, retrucou:

"Felizes são as pedras, que seguem firmes em sua dureza cinza e impenetrável. Deve ser confortável nascer pedra, viver pedra, sentir-se pedra: imóvel, quase eterna, a pedra sabe desde sempre do que deve ter medo. E sabe também que não há como fugir. Ventos e águas sempre estarão ao redor, moldando-as infinitamente."

9 de junho de 2008

Cabeça de abóbora

A história tinha todos os detalhes que pede um conto de fadas. Baile com músicos tocando ao vivo; princesa de vestido, príncipe cheiroso, dança de rostinho colado e carruagem. Teve também um sapatinho, que não era de cristal mas foi perdido no meio do caminho. De mãos dadas, um dos dois até ajoelhou-se.

Mas não existe conto de fadas além dos livros. Quer dizer, vai ver que até existe, mas nessa vida real o cronograma acaba embriagado e a princesa vira abóbora antes da hora.

Quando percebe, está em um baile onde se dança samba --nada contra samba, muito pelo contrário, mas a princesa só dança samba no estilo nórdico. Seu sapatinho se perdeu graças a um tropeção na escada, e o tropeção só aconteceu por conta dos excessos etílicos. Tais excessos são culpados, também, pelo ajoelhar-se no fim da noite.

Lugares onde se vende bebida alcoólica deviam ser todos planos, sem degraus. Naquele lugar, havia degraus --muitos. Por causa deles, a princesa virou abóbora bem ali: estatelou-se de joelhos, no fim da escada. Ao menos o príncipe foi gentil entregando-a a salvo em sua morada.

No dia seguinte, hirudoid para o joelho, dramin para o estômago e uma vontade imensa de enfiar a cabeça para sempre dentro de uma abóbora.

18 de maio de 2008

Sono, saliva e meia-entrada

Há muito tempo eu não sentia tanto sono no cinema. Comecei a pescar lá pela metade do filme. Sabe aquela coisa de voltar à consciência quando sua cabeça está no meio do caminho entre a vigília ereta e o cochilo sobre o próprio ombro?

Tenho pânico de dormir em público desde aquele dia em que vi um cara babando no metrô. Todo mundo baba, mas foi nojento, coitado. Sua baba escorregava num fio que descia em câmera lenta da boca até o ombro. Levou uns dez segundos e eu nunca mais me esqueci. Quando a baba encostou no ombro ele acordou, limpou-se e deu uma olhadinha em volta, com cara de quem pede pelo amor de Deus pra que ninguém tenha visto seu momento de intimidade babenta no vagão lotado. Olhei pro teto em respeito à vergonha alheia, mas a baba daquele sujeito ficou gravada na minha memória.

Foi essa lembrança que me manteve acordada no cinema. Em nome da minha dignidade pública, não dormi assistindo O sonho de Cassandra. Ainda bem que eu pago meia.

Reforma

Reformei o blog. Deu o maior trabalho...

Precisava escolher uma imagem para o fundo do título. Pega aquele cartão com O nu deitado, do Picasso, grava no formato certo, põe. Ficou grande, volta e grava menor, copia, baixa no blog, ok. Agora, muda a cor da letra do título, preto tá feio, tenta o laranja. Bom, melhor laranja, agora sim, combinou. Aumenta letra, dá pra alinhar à direita? Comandos, comandos, não, não deu. Deve dar, mas não sei como faz, tudo bem, deixa assim. Pinta o fundo da barra do título pra ficar igual à cor do fundo do blog, cinza clarinho. Pronto. Ficou bom, mas sobraram bordinhas. Saco, como faz pra apagar essas bordinhas? Não sei, deixa assim com bordinhas, são pequenas, são micro-bordinhas.

Agora põe na data dos posts o laranja também, esse cor de vinho não tem nada a ver. Pronto. Agora o ladinho ali. Adoro Gotan Project, mas enjoou faz tempo essa capa do CD ali do lado. O que eu vou por? Fotos. Quais? Não quero fotos minhas, são todas coloridas, quero fotos em preto e branco. Ah, tem as da exposição do Pierre Verger, O Japão de Pierre Verger. Procura. Achei. Corta uma por uma, carrega, acha links, baixa no blog. Ficaram grandes. Volta, diminui, mas tem que deixar todas na mesma largura. Ufa, deu certo. E deu trabalho. Mas é assim mesmo, né, mudar dá um trabalho...

10 de maio de 2008

Meu diploma da Nasa

Fiquei toda empolgada quando li que a Nasa fez um site onde a gente pode escrever nosso nome para ser levado à Lua pela próxima missão, que deve chegar por lá no fim do ano. Comentei com o Luiz, meu amigo.
- Você viu que legal? Tem um site em que a gente pode escrever o nome pra Nasa gravar num chip e mandar pra Lua!
Ele riu.
- E...? Pra que mandar o nome para a Lua? – o Luiz é o cara mais prático que eu conheço.
- Pra nada, ué, pra mandar pra Lua só. Se eu não posso ir pra Lua, pelo menos meu nome vai...
Ele riu mais.
- ...ou, de repente daqui mil anos a Terra nem existe mais e algum ET encontra, perdido no meio do lixo estelar, um chip com milhões de nomes...eu quero que o meu esteja lá. Você não quer?!
Ele respondeu, prático:
- Não.

Eu devia ter uns dez anos quando deitava na grama de um sítio e passava horas com meu pai olhando o céu de Águas de São Pedro. A gente conseguia enxergar cada meteoro que rasgava o céu: estrela cadente. Fechava os olhos e fazia pedido. Eu pirava olhando aquele universo imenso, sem começo nem meio nem fim. Nessa época, queria ser astrônoma.

Mandei meu nome para a Nasa. Espero que eles mandem mesmo o tal chip para o espaço. Ganhei até diploma, com número de registro e tudo, ó:

9 de maio de 2008

Jogo das 8 coisas

A Simone, do Locutório, passou essa tarefa há quase um mês: listar 8 coisas que eu gostaria antes de morrer. Demorei, mas consegui:

- Tocar piano tão bem quanto vovó
(essa vontade é da categoria das impossíveis porque demorei. Ninguém que aprenda piano aos 30 vai tocar Pour Elise como se fosse Chopin)

- Uma casa em Guaecá com quartos suficientes pra acomodar um monte de gente ao mesmo tempo

- Uma horta onde eu possa plantar beterrabas e alface crespinha

- Passar um ano na França

- Conhecer Cabul e Bagdá (é sério, quero)

- Parar de fumar para sempre

- Voar de balão (dentro da cestinha e com alguém que entenda do riscado pra garantir que eu volte)

- Me apaixonar todo ano pelo mesmo cara

Agora eu indico oito pessoas pra realizar a tarefa. Cada uma terá que indicar mais oito e assim, sucessivamente, a gente vai fazendo uma enorme corrente virtual de desejos. Os escolhidos são o
Ricardo C., o Cacau, a Jovana, a Sabrina, a Carol, o Kimda, o Alê e o Guilherme.

6 de maio de 2008

Até o capeta tem coração

O fim de Saddam Hussein todo mundo sabe. Sua trajetória e a prévia de seu fim, acuado, entocado feito bicho, sujo, imundo e sozinho, também. Hoje, no entanto, outra faceta do sujeito foi revelada.

É que um jornal árabe publicou partes de um certo diário que Saddam teria escrito enquanto esteve preso. Entre tantas pirações – ele tinha medo de pegar aids caso suas roupas fossem postas no varal junto às dos soldados americanos –, ele deu mostras de lirismo, acredita? O sujeito escrevia (ou achava que escrevia, não sei, não li) poemas!

Segundo quem leu os versos, dirigidos a uma anônima, sua poesia era imatura e enjoativa – mas tudo bem, o que vale é a intenção.

Fiquei pensando: que coisa, até o capeta tem coração...

27 de abril de 2008

Cabul estava agitada

Ontem começou a Virada e são 24 horas com um monte de coisas de graça para o povo fazer como passear ver filme e ouvir música

Mas normalmente quando junta um monte de gente acaba dando confusão então todo mundo esperava um bafafá alguma coisa ruim porque coisa ruim é o que dá audiência diversão também dá mas quanto mais trágico mais gente quer saber afinal a tristeza alheia engorda o ibope conforme tranqüiliza nossa solidão

Então este ano a Virada foi uma Virada sem lead porque foi uma Virada sem desgraça, nem um lead sem graça essa Virada virou

Virada gozada fugiu do que todo mundo esperava porque ano passado essa mesma Virada todo mundo manchetou
Teve mano e polícia a multidão em desordem e pancadaria num show

E eu lá pensando “ai que coisa monótona” e o povo dizia “está tudo tão tranqüilo que até encostei no chafariz pra ver os Mutantes ‘eu vou sabotar vou casar com ele vou trepar na escada...’ tocando aquela que a Cássia Eller gravou”

E eu lá bem sentada comecei a achar que não renderia nem chamada aquele tal de “alô está tudo calmo até agora somente ocorrências à toa” logo ontem que tomei tanto café pra ficar de pé

Mas era para todo mundo achar bom Virada sem confusão, não era?

Cabul estava agitada Karzai saiu ileso do ataque enquanto comemorava 16 anos da queda de outro governo afegão

Eu viro a noite e chego assim acelerada e quem sofre é você que lê o resultado de um monte de palavra guardada porque não deu lead a Virada não teve Brown e show com pancada aquele show que ano passado todo mundo todo mundo manchetou...

23 de abril de 2008

O Jô Soares...

...está se superando. Semana passada, arrancou declarações inéditas da Mulher Melancia. Nesta terça, teve a satisfação de ter em seu sofá Kelly Key dando canja do clássico “I’m a Barbie girl, in a Barbie world...”. Em português.

9 de abril de 2008

Chávez quer expulsar
Os Simpsons da Venezuela

Hugo Chávez é chato. Não só o presidente, mas ele, o homem Hugo Chávez, é muito, muito chato. Aposto meu dedinho do pé que ele é aquele tipo de gente que já acorda implicando, praguejado, aquele tipinho ranzinza, sempre do contra, sabe?

Só uma criatura chata desde feto mandaria tirar do ar o desenho d’Os Simpsons, transmitido por uma TV privada da Venezuela em horários matinais.

A Comissão Nacional de Telecomunicações daquele país argumentou que o programa não estaria “apto para crianças”.
Como assim??

Qualquer venezuelanozinho que assiste aos blá blá blás presidenciais está mais que apto a assistir a qualquer esquisitice, inclusive às do desenho. Ou Chávez pensa que Os Simpsons são muito menos politicamente corretos que ele próprio, com aquela habilidade diplomática de camundongo?

Uma diversão a menos para los hermanos y sus niños. Ponto pra ranzinzice chavista.

Na matéria, publicada pela agência
Ansa nesta terça (8), o presidente não foi citado, mas alguém duvida de quem teria partido a ordem?

Chaaaatooooo...

4 de abril de 2008

hoje é dia...

...de brigadeiro!


.

2 de abril de 2008

Quereres

...aí, em meio àquele monte de almofadas de cetim verdes e marrons, ele me perguntou:

- Afinal, o que você quer?

Pensei por oito segundos.

- O quê, não sei, mas posso te dizer quanto.

- Então?

- Ah, meu bem, quero muito, muito mais que isso.

- Já é alguma coisa...

28 de março de 2008

Zéu Britto, "Amor de folheado"

Zéu Britto é ícone nacional

23 de março de 2008

El perro español

Uma amiga está mudando para a Espanha. O marido vai trabalhar e ela, estudar. Com o casal vai Jorge, o cão da família.

O pedido de visto foi uma novela, ou melhor, um filme, dos de suspense. E não ache que foi um curta porque não foi. Do primeiro contato com o consulado da Espanha em São Paulo até os vistos já são cinco meses.

O dela saiu semana passada. Visto de estudante. O do marido, que vai a trabalho, ainda está para sair. A viagem será na próxima quinta e o tal do visto até agora não saiu. Isso porque está tudo certinho, ele apresentou todos aqueles documentos repletos de carimbos, assinaturas, datas, horas e outras sinalizações que deviam servir como garantia da idoneidade do casal.

O cachorro? A parte dele foi a mais fácil. Em pouco mais de dois meses, não só conseguiu o visto como se tornou cidadão espanhol. Logo ele, que nem tinha essa pretensão...

Jorge já não é mais um cão tupiniquim. Agora, só late com sotaque e dá preferência a quem o chama de Jorgito (pronuncie Rôr rito).

Minha amiga começou a achar quase um desprazer ser humana. “Se quiserem me barrar não vou ter problemas. O Jorgito vai estar comigo.” Ao lado del perro, ela vai confiante.

.

21 de março de 2008

Foi

genial

Arthur Clarke e Kubrick no set de
2001, uma odisséia no espaço


16 de março de 2008

Comunicação é tudo

Chegando na “firma” percebo que esqueci o crachá. Vou até o senhor da recepção pedir que libere minha entrada.

- Oi, eu sou freela da noite, esqueci meu crachá, o senhor me libera?

- Onde a senhora vai?

- No sexto andar...

- Falar com quem?

- Não, esqueci o crachá, é só digitar meu RG e me liberar um crachá provisório.

Eu estava atrasada. A pressa borra a clareza das pessoas – não sei se de todas as pessoas, mas a minha, borra. Devo ter falado muito rápido porque ele ficou me olhando com cara de “hã?”. Vinte segundos depois, repetiu:

- Mas com quem a senhora veio falar?

- Não, vim trabalhar, digita meu RG, eu sou freela...

Concentrou-se na tela enquanto apertava a setinha “para baixo” no teclado do micro. Não digitou meu RG, só clicava na setinha. Sem tirar os olhos da tela, balbuciou:

- Sofrila...Sofrila... senhora, não tem ninguém com esse nome, não...
.

10 de março de 2008

Vulgar

Ele tem saudade do tempo em que andava de quatro. Naquela época, via o mundo de baixo para cima e, graças à perspectiva, tudo o que almejava ficava no alto, ao longe. O mundo era uma promessa para depois.

Ele tem saudade da inconseqüência que dava ritmo ao seu engatinhar. Era imensa e sem malícia a inconseqüência de criança. Olhava para cima e desejava as nuvens. Sonhava em crescer porque acreditava que aí então poderia agarrá-las com as mãos. Bastaria aguardar o tempo, só tinha de esperar...

Inevitável, cresceu. E sente saudade.

Ele tem saudade porque descobriu que o céu está mais distante. Se ganhou do tempo idade para saltar de pára-quedas e, em queda livre, atravessar nuvens, recebeu também um ônus. Madura, sua inconseqüência tornou-se comedida e extremamente vulgar.

3 de março de 2008

Neste dia
que é seu

Apesar de todos os excessos – os meus excessos – não é exagero eu te desejar estrelas. O calor, o brilho, a perenidade, o encantamento e a sabedoria cor de prata das estrelas.



Neste dia, que é seu, e em cada um dos outros.

25 de fevereiro de 2008

"Ants Marching"

Dave Matthews Band. O clipe aí de cima é de “Ants marching” e foi gravado no Central Park, não sei quando.

Eu, que sou menos globalizada, vi os caras pelas bandas de cá mesmo, no Rock in Rio de 2001. Acabou de fazer sete anos e não me esqueço do show! Tocaram no mesmo dia que Neil Young, antes dele fechar a noite.

Nesse clipe, o vocalista (que dá nome à banda) arrisca uns agudos e desafina...mas ele pode, nem dói o ouvido. Vale prestar uma atenção especial no baterista, Carter Beauford, que manda muito bem. E a letra vai copiada aí embaixo, “Ctrl C / Ctrl V” do site oficial. Hope you enjoy...

He wakes up in the morning
Does his teeth bite to eat and he's rolling
Never changes a thing
The week ends the week begins
She thinks, we look at each other
Wondering what the other is thinking
But we never say a thing
These crimes between us grow deeper
Goes to visit his mommy
She feeds him well his concerns
He forgets them
And remembers being small
Playing under the table and dreaming

Take these chances
Place them in a box until a quieter time
Lights down, you up and die
Driving in on this highway
All these cars and upon the sidewalk
People in every direction
No words exchanged
No time to exchange

And all the little ants are marching
Red and black antennas waving
They all do it the same
They all do it the same way

Candyman teasing the thoughts of a
Sweet tooth tortured by the weight loss
Programs cutting the corners
Loose end, loose end, cut, cut
On the fence, could not to offend
Cut, cut, cut, cut

Take these chances
Place them in a box until a quieter time
Lights down, you up and die

20 de fevereiro de 2008

Já vai, Fidel?


Talvez agora lhe sobre tempo para cortar as unhas






Foto: Javier Galeano/AP

18 de fevereiro de 2008

Tenham todos uma ótima semana!

[se clicar a imagem aumenta]


até o cachorro saiu fugido!


Desenho: Marcel Gotlib e Alexis*
revista Piauí, fev. 2008
"A dama das Camélias" - parte 2, p. 60

*desenhistas, publicaram a adaptação
do livro de Alexandre Dumas Filho
na revista Pilote.

16 de fevereiro de 2008

Perturba-se?

Todo sujeito perturbado tem potencial latente para a arte.


Quando ele descobre formas de digerir seu incômodo, pode transformá-lo, produzindo a tal da arte. Pode até ser intencionalmente, mas via de regra é sem querer. Faz arte e nem percebe.

Que coisa, um nome assim curtinho, rápido: “arte”...faz parecer fácil materializar as perturbações, embelezá-las.


A criatura pode ter ficado perturbada pela loucura, pelos vícios – os do corpo e os da carne –, por tragédias familiares, pela tuberculose ou qualquer mal físico fatal, tanto faz.

Nietzsche, Van Gogh, H. Bosch, Beethoven, Baudelaire, Pagu, Picasso, Tom Jobim, Vinícius, Billie Holiday, Elis, Andy Warhol, Machado, Lispector, Nelson Rodrigues, Sylvia Plath; Kurt Cobain, o trio Jimmy, Janis e Jim; Tom Zé, Rita Lee, Cazuza, Münch etc. etc. etc.

Se o cara não chegar ao estado de perturbação, precisa ao menos ser exagerado*. Sacanagens de primeira, bares, noites, paixões e ópios entremeados pela inspiração.


Avidez generalizada, voracidade, sede de vida, ânsia de sentir, sentir, sentir, não perder tempo nem ficar à-toa, fazer, querer, querer, querer imediatamente e em seguida querer mais um pouco e depois mais....

No fim, submerge. (Depois, recomeça tudo, mas sempre há fins e em cada um deles submerge.)

Porque transmutar exagero em arte exige concentração, demanda alguma solidão e muito empenho.




* Todo perturbado/exagerado tem potencial artístico, mas nem todo artista é perturbado/exagerado, e nem todo perturbado/exagerado transforma o que sente em arte.

11 de fevereiro de 2008

Porqué esperar para cambiar?

En el mundo habrá un lugar
para cada despertar
un jardín de pan y de poesía

Porque puestos a soñar
fácil es imaginar
esta humanidad en harmonía

Vibra mi mente al pensar
en la posibilidad
de encontrar un rumbo diferente

Para abrir de par en par
los cuadernos del amor
del gauchaje y de toda la gente

Qué bueno che , qué lindo es
reírnos como hermanos
Porqué esperar para cambiar
de murga y de compás.

Gotan Project - Diferente
(Eduardo Makaroff)

7 de fevereiro de 2008

Estudante afegão é condenado
à morte por fazer pensar



Esse menino aí na foto tem 23 anos e é estudante de jornalismo. Se ele vivesse em qualquer outro lugar que não o Afeganistão seria mais um universitário encantado com as possibilidades que o debate de idéias proporciona.

Acontece que ele é afegão e por isso – só por isso – foi condenado em 22 de janeiro à pena de morte após distribuir aos colegas de classe na Balkh University um artigo que põe em debate os argumentos dos fundamentalistas, que usam passagens do Alcorão para justificar a opressão aplicada às mulheres afegãs. O texto questionaria a poligamia e afirmaria que os muçulmanos ultraconservadores só encontram tal justificativa por manipularem as palavras do profeta Maomé, forjando a interpretação "oficial".

O rapaz, Sayed Pervez Kambaksh, distribuiu o artigo a colegas e professores com o intuito de provocar o debate sobre o tratamento dispensado às mulheres no Afeganistão. Foi o suficiente para, sem mais nem menos, ser levado por autoridades supostamente defensoras do islamismo, preso e condenado à morte – tudo isso sem direito de defesa.

Grupos de direitos humanos ligados à ONU, organizações jornalísticas e diplomatas ocidentais já apelaram às autoridades afegãs para que anulem a pena de morte, mas o Senado do país não arredou pé.

O jornal britânico The Independent levantou bandeira em prol da revisão da pena (a matéria original, publicada em 31 de janeiro, pode ser vista
aqui). Montou um abaixo-assinado no site que pode salvar a vida desse cara codenado por tentar fazer pensar. Segundo o The Independent, a execução de Sayed Pervez Kambaksh ainda pode ser revertida desde que haja suficiente pressão internacional sobre o presidente afegão, Hamid Karzai.

É bom lembrar que esse absurdo está acontecendo em um Afeganistão que, em tese democrático, deveria no mínimo se mostrar menos totalitário seis anos depois de “liberto” da insanidade taleban. Que o mundo está do avesso não é novidade, mas daí a matar uma pessoa que só quis levantar um questionamento é loucura demais, é maldade demais.

Quem contribuir com esse abaixo-assinado estará fazendo um bem para a humanidade. Só milhares de Sayed´s podem mudar o rumo da História afegã. Assina, vai? Basta colocar nome, e-mail e país.

A notícia atualizada pode ser vista
aqui, na FOL desta quinta, dia 7.

*Imagem: Reuters

1 de fevereiro de 2008

Sorri, colombina

Saiu para pular o carnaval com coração de colombina que se perdeu do pierrô. O sorriso é parte da fantasia. Corpo e alma calibrados, caminha rumo à avenida.

Cada lantejoula, cada pedacinho de cetim com paetê rosa e branco, tudo nela foi minuciosamente arranjado para que ficasse perfeito, da maquiagem profunda às pestanas postiças.

De samba decorado e espírito embriagado toma seu lugar no enredo. Nessa hora – só nessa – brinca que o pierrô perdido já não mais existe senão no passado.

Segue a bateria para saturar a alma, para deixá-la por instantes sem espaço para mais nada além da percussão.

Roda, gesticula, sorri para a arquibancada um sorriso para ninguém. Quem olha vê a alegria encarnada na colombina a carnavalizar.

Melhor assim. Não quer revelar que em verdade só pisou na avenida para não lembrar.

17 de janeiro de 2008

Orwell, Huxley e a genética da Microsoft

Ontem (16), foi divulgada a notícia de que a Microsoft está desenvolvendo um programa que promete monitorar o rendimento dos funcionários que trabalham em frente ao computador.

O sistema deverá conectar o coitado do empregado ao micro por sensores sem-fio, que farão registro de seu desempenho no emprego por meio da medição dos batimentos cardíacos, da temperatura corporal, da pressão arterial e das expressões faciais (!!). O monitoramento seria acompanhado em tempo real pelas chefias – que estariam, assim, aptas a ajudar ou carcar os funcionários se o programa registrasse qualquer variação fisiológica que pudesse indicar desempenho aquém do desejado. O robozinho dedo-duro wireless ainda seria capaz de detectar sintomas de estresse e frustração.

Impossível não relacionar esse sistema com o “Big Brother” – o original, aquele imaginado por
George Orwell no livro “1984”, traduzido na edição que surrupiei do meu pai há oito anos como “Grande Irmão”. A matéria publicada no britânico Times Online faz o paralelo logo na primeira linha, já no Jornal da Globo a notícia foi dada sem menção ao livro.

Invasão de privacidade monstra, robotização geral. Imagina se isso pega? A moça iria trabalhar toda contente porque o Zé telefonara. O sistema detectaria em sua expressão facial um riso à-toa e um aumento dos batimentos cardíacos de tempos em tempos – isso quando ela pensasse em Zé, mas o sistema não teria como saber no que ela estava pensando.
Um minuto depois, seu patrão careca, gordo e de bigodes fartos iria convocá-la. Conseguiria explicar-se para em seguida ouvir que estava demitida. Por justa causa. “Ora essa, o problema do ser-humano é insistir nas emoções", sentenciaria o chefão. "A senhorita precisa aprender a dominar as suas, do contrário não vai parar em emprego algum.” Emoções seriam justa causa.

Em “1984”, o 'profeta Orwell' – um Nostradamus rebelde – conta a história de uma sociedade que é monitorada o tempo todo pela figura do “Grande Irmão”. Quem vive nela passa por uma lavagem cerebral ininterrupta e não possui qualquer direito individual. Liberdade, democracia e distribuição do poder são coisas do passado, de tempos em que predominava um regime classificado malévolo e desordenado.

Se você não leu, leia porque é uma viagem. Aproveita e lê também
“Admirável mundo novo”, de Aldous Huxley – um Nostradamus lisérgico. Se a engenharia genética cai na mão de algum insano neonazista, tudo o que pode acontecer está descrito na obra de Huxley. Aí, meu bem, só a base de Soma.

12 de janeiro de 2008

Haja saco!

Não, não estou praguejando.

É que hoje fui passear pelo Haja saco --também conhecido como "o blog dos meninos".

Quer ver? Clica aqui.

Valeu, Fabinho, pelos toques e palpites. E valeu, Hajas todos, pelo espaço!

11 de janeiro de 2008

Retrato de inocência

[Da nova série "Conversas de Metrô"]

Estação Santa Cecília, São Paulo, sete e meia da manhã.

Enquanto aguardava o trem que me levaria até a Sé para a primeira baldeação, eu observava o povo ao redor. Do meu lado, um menino com cerca de doze anos conversava com outro mais ou menos da mesma idade. Um garotinho mais novo, de mãos dadas com o primeiro, observava a conversa dos dois. Este devia ter uns cinco anos, no máximo.

Menino 1 – ...andei de Bondinho, subi lá no alto. É mó aaaalto lá em cima, mas eu não fiquei com medo, não...

Menino 2 – Eu também vou no Bondinho quando meu pai me levar pro Rio. Ele prometeu...

Menino 1 – Eu estava com medo de bala perdida, mas você não precisa ter medo, porque enquanto eu estava lá não vi nenhuma bala perdida...

Menino 3 (de cinco anos) – Se eu levar balinha pro Rio e perder ninguém devolve?

Suspirei. “Ah, a inocência das crianças...”

7 de janeiro de 2008

O canto

Foto: Isa Bevilaqua

Bem lá no fundo ela vive. Salgada.

Desliza em meio aos peixes, às pedras e aos restos de navios. Nas carcaças de ferro recobertas de algas é que se esconde quando um ou outro descuidado mergulha até lá. Acha graça na estranheza da figura que chega toda paramentada, soltando bolhas, usando roupa de neoprene, pés de pato e cilindro nas costas. Ali embaixo, eles precisam de oxigênio. “É o homem que carrega o cilindro ou o cilindro que carrega o homem?”

Acontece às vezes de subir à superfície para olhar o céu estrelado. Só sobe à noite, porque o sol machuca a pele branca, quase transparente. Prefere banho de lua, sobretudo se for cheia.

As noites inspiram-na. Então, ela canta um canto que quem já ouviu jura que hipnotiza. E deve mesmo, porque desde que o mundo é mundo os marinheiros perdem a cabeça com sua voz. Entregam-se às profundezas que guardam a lenda e não voltam nunca mais.

Se fosse eles, eu também me entregaria.