28 de fevereiro de 2010

A alma boa

Em meio a esse monte de catástrofe que vem acontecendo desde o início do ano mundo afora – e olha que ainda estamos entrando em março – um monte de questões filofófico-existenciais acabam passando pela cabeça. Coisas do tipo e aí, se tudo acaba de repente, pra onde você acha que vai? Céu, inferno, purgatório, lugar nenhum; será que vamos ficar, será que se ficarmos vai ser melhor ou pior? Onde você pretende estar quando o fim dos tempos chegar?

Um físico primo de uma amiga diz que o mundo não vai acabar, o que vai acontecer é um expurgo e só um terço da população vai resistir – o um terço melhor: os melhores corações, as melhores pessoas, só gente boa. E aí, você entra em que parte, no um terço de almas boas, ou nos dois terços que sobram?

Eu não sei dizer, até porque parei em uma pergunta anterior a essa. O que é ser bom? O que define uma boa alma, alguém explica? Não é assim tão simples, porque ser humano é carregar em sim luz e sombra, não é? Então, talvez, o que distingue o bom do mau é a forma como cada um lida com a porção de sombra que carrega na alma; é o bem que se consegue extrair do mal que mora na gente.

Ontem fui assistir A Alma Boa de Setsuan, de Brecht, que está em cartaz no Tuca há algum tempo, e está em temporada popular, a R$ 30, até o fim de março. Vou falar que vale muito a pena, porque Marco Antonio Braz (dir.), Denise Fraga e grande elenco conseguiram fazer uma montagem cômica que te deixa meditando e meditando e meditando sobre questões filosófico-existenciais como essa de ser bom X ser mau, mas sem sofrimento, com leveza.

Corra para o Tuca se você ainda não foi. Eu vou ficar aqui, pensando, pensando, e revendo todo o significado que vai na frase da peça que mais me atingiu, certeira. “...afinal, a maldade é apenas uma imperfeição”.


10 de fevereiro de 2010

Amfibus: a Arca de Noé do nosso tempo

Diante do dilúvio que inundou vários Estados do Brasil desde o início do verão, e de todas as ameaças “tsunâmicas” que o aquecimento global nos impõe – juntando a isso as crenças sobre o fim do mundo, como a interpretação do calendário maia –, muita gente vem recorrendo ao Gênesis em busca de algum alento. Nessa procura por uma explicação que dê sentido mais elevado à fúria da natureza, vira e mexe são mencionados o bom Noé e sua velha arca.

E não é que uma notícia publicada hoje na BBC dá conta de uma novidade digna do personagem bíblico e da nossa realidade pré-submersa?!

Trata-se do Amfibus, um ônibus anfíbio fabricado na Holanda, com capacidade para 45 passageiros (caberiam 22 casais de cada espécie, além do motorista).

Nas ruas, ele funciona normalmente; na água, é movido por turbinas. Por enquanto está em teste em Glasgow (Escócia), mas, se tudo der certo, deve entrar em funcionamento logo mais.

O problema é que o preço da novidade ainda é salgado: R$ 2 milhões. Se não baixar, já viu o que vai acontecer, né? Em tempos de capitalismo, quando as águas rolam, o resgate não é democrático como foi o de Noé. Pelo contrário. Sobrevive ao dilúvio apenas quem pode pagar para fugir dele.

Se bichos serão salvos? Sim, mas apenas os lulus de estimação.

6 de fevereiro de 2010

Sobre “as outras” de Tiger Woods

Que raio de mundo é esse em que, pra justificar uma pulada de cerca, o sujeito se intitula ninfomaníaco?

Acho muito chato isso de olhar em volta e perceber que, em pleno século 21, o público aceite melhor uma explicação baseada numa patologia fake do que um mea culpa justificado pelo desejo – direito legítimo de toda pessoa dona da própria vida.