16 de fevereiro de 2008

Perturba-se?

Todo sujeito perturbado tem potencial latente para a arte.


Quando ele descobre formas de digerir seu incômodo, pode transformá-lo, produzindo a tal da arte. Pode até ser intencionalmente, mas via de regra é sem querer. Faz arte e nem percebe.

Que coisa, um nome assim curtinho, rápido: “arte”...faz parecer fácil materializar as perturbações, embelezá-las.


A criatura pode ter ficado perturbada pela loucura, pelos vícios – os do corpo e os da carne –, por tragédias familiares, pela tuberculose ou qualquer mal físico fatal, tanto faz.

Nietzsche, Van Gogh, H. Bosch, Beethoven, Baudelaire, Pagu, Picasso, Tom Jobim, Vinícius, Billie Holiday, Elis, Andy Warhol, Machado, Lispector, Nelson Rodrigues, Sylvia Plath; Kurt Cobain, o trio Jimmy, Janis e Jim; Tom Zé, Rita Lee, Cazuza, Münch etc. etc. etc.

Se o cara não chegar ao estado de perturbação, precisa ao menos ser exagerado*. Sacanagens de primeira, bares, noites, paixões e ópios entremeados pela inspiração.


Avidez generalizada, voracidade, sede de vida, ânsia de sentir, sentir, sentir, não perder tempo nem ficar à-toa, fazer, querer, querer, querer imediatamente e em seguida querer mais um pouco e depois mais....

No fim, submerge. (Depois, recomeça tudo, mas sempre há fins e em cada um deles submerge.)

Porque transmutar exagero em arte exige concentração, demanda alguma solidão e muito empenho.




* Todo perturbado/exagerado tem potencial artístico, mas nem todo artista é perturbado/exagerado, e nem todo perturbado/exagerado transforma o que sente em arte.

8 comentários:

Ricardo C. disse...

Porque transmutar exagero em arte exige concentração, demanda alguma solidão e muito empenho.

E técnica, e maestria, mesmo para os Artur Bispo do Rosário da vida...

Rê Piza disse...

Com certeza...acho que quanto mais "perturbado", maior a maestria.
:)

Mariana disse...

Rê, lembra aí algum grande artista não perturbardo, please... Aquele grande artista completamente normal, gente como a gente, só que grande artista... Eu sei lá. Sempre me pego perguntando se a "loucura", o transtorno, a inadequação, o visionarismo (isso existe) etc. não são condições sine qua non para ser artista...

Anônimo disse...

confesso, que às vezes eu gostaria de ser mais perturbado e criar algo realmente bom, que pudesse ser chamado de arte. Uma composição magistral, uma obra de arte, algo assim. Ser normal é um anticlimax.

Rê Piza disse...

não existe, Mari, não existe! A arte é a materialização das perturbações e ponto, essa é minha tese. Não existe falta de inspiração pior que equilíbrio emocional, normalidade etc. Fabinho, ser normal é anticlímax total, é chato à beça. Tem duas pessoas com quem eu queria ter dez minutos de prosa: Van Gogh e Nietzsche
:O

Guilherme Lima disse...

O pior é que todo sujeito perturbando que faz alguma coisa parecida com arte acaba vendendo tal coisa como arte...rsrsr. É que eu na minha loucura recortei milhares de postais desses de balada e fiz uma colagem em referência ao mondrian. Deixei em um bar de um amigo, por deixar mesmo, pra enfeitar a casa sem cobrar nada. Não é que apareceu um louco pra comprar... que loucura né... o piór é que nem tirei foto nem nada, do mesmo jeito que pintei a parede do quarto por cima da mandala, lembrei que não tinha tirado foto, tudo bem que seja como o graffiti na parede de um prédio, pra ser destruído ou apagado...

Bjs Rê

Rê Piza disse...

Gui, perturbados atraem perturbados...disso não tem como fugir.
Bjs!

Rackel disse...

Ah se eu fosse perturbada...

bjs e bons ventos