10 de março de 2008

Vulgar

Ele tem saudade do tempo em que andava de quatro. Naquela época, via o mundo de baixo para cima e, graças à perspectiva, tudo o que almejava ficava no alto, ao longe. O mundo era uma promessa para depois.

Ele tem saudade da inconseqüência que dava ritmo ao seu engatinhar. Era imensa e sem malícia a inconseqüência de criança. Olhava para cima e desejava as nuvens. Sonhava em crescer porque acreditava que aí então poderia agarrá-las com as mãos. Bastaria aguardar o tempo, só tinha de esperar...

Inevitável, cresceu. E sente saudade.

Ele tem saudade porque descobriu que o céu está mais distante. Se ganhou do tempo idade para saltar de pára-quedas e, em queda livre, atravessar nuvens, recebeu também um ônus. Madura, sua inconseqüência tornou-se comedida e extremamente vulgar.

10 comentários:

Anônimo disse...

ótimo, Rê. Crescer e amadurecer é realmente um processo necessário, mas doloroso. Atravessamos nuvens e estamos constantemente em queda livre

Ilis disse...

bom demais.

Laurita Danjo disse...

Crescer dói e o remédio não está na lembrança.

Simone Iwasso disse...

eu queria voltar a engatinhar e brincar mais!

Anônimo disse...

Re, só para esclarecer: nada contra sardas. Afinal, elas tb têm boa participação na minha constituição genética rss
beijão pra ti

Rê Piza disse...

Inconseqüência SOS, gente!

Não mesmo, D'angelo...o remédio é tarja preta. :D

Eu tb, Simone, brincar de boneca, esconde-esconte e de pular elástico. Ah, corda tb.
:)

Fabinho: hahaha!! Não resisti ao comentário e (perdão pelo trocadalho infame) tive que puxar sardinha para as minhas. rs!
Bjos!

Guilherme Lima disse...

Como é duro envelhecer e morrer de saudades...

Rê Piza disse...

Imagina aos 80 as histórias que a gente vai postar no blog... rsrs

Rackel disse...

Mto bom esse post... como sinto saudades da infancia (e eu nem to tão velha assim, vai)...

Aff!

Rê Piza disse...

Rackel, obrigada pela visita! Então, eu sempre penso naquela época com saudades...mas será que era assim tão bom como a gente lembra, ou será que a memória é que nos engana?
Volte sempre :)