Zéu Britto é ícone nacional
28 de março de 2008
23 de março de 2008
El perro español
Uma amiga está mudando para a Espanha. O marido vai trabalhar e ela, estudar. Com o casal vai Jorge, o cão da família.
O pedido de visto foi uma novela, ou melhor, um filme, dos de suspense. E não ache que foi um curta porque não foi. Do primeiro contato com o consulado da Espanha em São Paulo até os vistos já são cinco meses.
O dela saiu semana passada. Visto de estudante. O do marido, que vai a trabalho, ainda está para sair. A viagem será na próxima quinta e o tal do visto até agora não saiu. Isso porque está tudo certinho, ele apresentou todos aqueles documentos repletos de carimbos, assinaturas, datas, horas e outras sinalizações que deviam servir como garantia da idoneidade do casal.
O cachorro? A parte dele foi a mais fácil. Em pouco mais de dois meses, não só conseguiu o visto como se tornou cidadão espanhol. Logo ele, que nem tinha essa pretensão...
Jorge já não é mais um cão tupiniquim. Agora, só late com sotaque e dá preferência a quem o chama de Jorgito (pronuncie Rôr rito).
Minha amiga começou a achar quase um desprazer ser humana. “Se quiserem me barrar não vou ter problemas. O Jorgito vai estar comigo.” Ao lado del perro, ela vai confiante.
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21 de março de 2008
16 de março de 2008
Comunicação é tudo
Chegando na “firma” percebo que esqueci o crachá. Vou até o senhor da recepção pedir que libere minha entrada.
- Oi, eu sou freela da noite, esqueci meu crachá, o senhor me libera?
- Onde a senhora vai?
- No sexto andar...
- Falar com quem?
- Não, esqueci o crachá, é só digitar meu RG e me liberar um crachá provisório.
Eu estava atrasada. A pressa borra a clareza das pessoas – não sei se de todas as pessoas, mas a minha, borra. Devo ter falado muito rápido porque ele ficou me olhando com cara de “hã?”. Vinte segundos depois, repetiu:
- Mas com quem a senhora veio falar?
- Não, vim trabalhar, digita meu RG, eu sou freela...
Concentrou-se na tela enquanto apertava a setinha “para baixo” no teclado do micro. Não digitou meu RG, só clicava na setinha. Sem tirar os olhos da tela, balbuciou:
- Sofrila...Sofrila... senhora, não tem ninguém com esse nome, não...
- Oi, eu sou freela da noite, esqueci meu crachá, o senhor me libera?
- Onde a senhora vai?
- No sexto andar...
- Falar com quem?
- Não, esqueci o crachá, é só digitar meu RG e me liberar um crachá provisório.
Eu estava atrasada. A pressa borra a clareza das pessoas – não sei se de todas as pessoas, mas a minha, borra. Devo ter falado muito rápido porque ele ficou me olhando com cara de “hã?”. Vinte segundos depois, repetiu:
- Mas com quem a senhora veio falar?
- Não, vim trabalhar, digita meu RG, eu sou freela...
Concentrou-se na tela enquanto apertava a setinha “para baixo” no teclado do micro. Não digitou meu RG, só clicava na setinha. Sem tirar os olhos da tela, balbuciou:
- Sofrila...Sofrila... senhora, não tem ninguém com esse nome, não...
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10 de março de 2008
Vulgar
Ele tem saudade do tempo em que andava de quatro. Naquela época, via o mundo de baixo para cima e, graças à perspectiva, tudo o que almejava ficava no alto, ao longe. O mundo era uma promessa para depois.
Ele tem saudade da inconseqüência que dava ritmo ao seu engatinhar. Era imensa e sem malícia a inconseqüência de criança. Olhava para cima e desejava as nuvens. Sonhava em crescer porque acreditava que aí então poderia agarrá-las com as mãos. Bastaria aguardar o tempo, só tinha de esperar...
Inevitável, cresceu. E sente saudade.
Ele tem saudade porque descobriu que o céu está mais distante. Se ganhou do tempo idade para saltar de pára-quedas e, em queda livre, atravessar nuvens, recebeu também um ônus. Madura, sua inconseqüência tornou-se comedida e extremamente vulgar.
Ele tem saudade da inconseqüência que dava ritmo ao seu engatinhar. Era imensa e sem malícia a inconseqüência de criança. Olhava para cima e desejava as nuvens. Sonhava em crescer porque acreditava que aí então poderia agarrá-las com as mãos. Bastaria aguardar o tempo, só tinha de esperar...
Inevitável, cresceu. E sente saudade.
Ele tem saudade porque descobriu que o céu está mais distante. Se ganhou do tempo idade para saltar de pára-quedas e, em queda livre, atravessar nuvens, recebeu também um ônus. Madura, sua inconseqüência tornou-se comedida e extremamente vulgar.
3 de março de 2008
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