10 de novembro de 2007

Sigo pedaços de pão


Foto: inbeesible

Não me cerque. Não é porque foi bem-vindo duas vezes que haverá terceira. E não me exija coerência, coisa sem pé nem cabeça que se inventou. Sou gente, não número. Só matemática pode ser exata, eu, não. Ontem queria você, hoje mudei de idéia.

Não me condene. Somos tão opostos que de nós dois até poderia sair coisa boa, mas não vai. É essa tua ânsia de nexo que me põe distante. Tua harmonia está nos números, não nos sujeitos. Tudo em você é limpinho – quase estéril. Cada coisa no devido lugar; do lado esquerdo, camisas brancas, no meio, as coloridas. Pretas penduradas na parte direita do armário.

Minha vontade é de te virar do avesso, mas ao menor sinal de que vou te descabelar, saca aquele pente que leva no bolso e começa a ajeitar os fios. Até os fios do cabelo têm cada um seu lugar.

De pequena, adivinha qual era meu conto de fadas preferido? Na biblioteca da escolinha, as meninas disputavam A bela adormecida. Eu, já aos seis, não tecia expectativas de ser salva por príncipe encantado. Achava, aliás, aquela figura sobre o cavalo branco, vestindo capa vermelha e chapéu aveludado, muitíssimo monótona. Que salvação pode-se esperar de um homem loirinho dos olhos azuis, parecido com Leonardo Di Caprio, montado naquele cavalo virginal? Pra onde um cavalo desses me levaria?

Como não sou afeita a situações seguras, lá na biblioteca da escolinha eu subia no banco e me esticava toda, até tocar os dedinhos no volume que me enchia de encanto.
Qual é meu conto? Joãozinho e Maria.

2 comentários:

Anônimo disse...

demais, Rê. Não são poucos os relacionamento que balançam ou desmoronam justamente por estarem muito equilibrados. Há de ser comer vorazmente, mesmo correndo o risco de virar presa.

Rê Piza disse...

Fabinho, adorei o dito "há de se comer vorazmente, mesmo correndo o risco de virar presa"! Rende uma uma historinha! rsrs
Valeu. Bjos!