Ele queria ver as pessoas em branco. Telas virgens cujas impressões fossem pintadas no espaço vazio com tons de realidade, sem impressões, imprecisões ou achismos. Sem "quases".
"É uma pena que com a troca de três olhares e cinco palavras nos precipitemos pintando o branco da figura alheia com cores inventadas", ele disse. "Essa criação fica sempre aquém ou além do que o outro é de fato."
Ele acha que as curvas desenhadas precipitadamente acabam borradas pelas sombras da verdade. Frustração entristece, frustração fortalece. "Fortalece?" Respondi que sim. "Toda coisa que faz sofrer fortalece?" "Acho que sim", eu disse. "Que pena, né..."
Ele ficou ali olhando para mim sem me enxergar, olhando para mim e enxergando pensamentos. Em seguida, retrucou:
"Felizes são as pedras, que seguem firmes em sua dureza cinza e impenetrável. Deve ser confortável nascer pedra, viver pedra, sentir-se pedra: imóvel, quase eterna, a pedra sabe desde sempre do que deve ter medo. E sabe também que não há como fugir. Ventos e águas sempre estarão ao redor, moldando-as infinitamente."