O sistema deverá conectar o coitado do empregado ao micro por sensores sem-fio, que farão registro de seu desempenho no emprego por meio da medição dos batimentos cardíacos, da temperatura corporal, da pressão arterial e das expressões faciais (!!). O monitoramento seria acompanhado em tempo real pelas chefias – que estariam, assim, aptas a ajudar ou carcar os funcionários se o programa registrasse qualquer variação fisiológica que pudesse indicar desempenho aquém do desejado. O robozinho dedo-duro wireless ainda seria capaz de detectar sintomas de estresse e frustração.
Impossível não relacionar esse sistema com o “Big Brother” – o original, aquele imaginado por George Orwell no livro “1984”, traduzido na edição que surrupiei do meu pai há oito anos como “Grande Irmão”. A matéria publicada no britânico Times Online faz o paralelo logo na primeira linha, já no Jornal da Globo a notícia foi dada sem menção ao livro.
Invasão de privacidade monstra, robotização geral. Imagina se isso pega? A moça iria trabalhar toda contente porque o Zé telefonara. O sistema detectaria em sua expressão facial um riso à-toa e um aumento dos batimentos cardíacos de tempos em tempos – isso quando ela pensasse em Zé, mas o sistema não teria como saber no que ela estava pensando. Um minuto depois, seu patrão careca, gordo e de bigodes fartos iria convocá-la. Conseguiria explicar-se para em seguida ouvir que estava demitida. Por justa causa. “Ora essa, o problema do ser-humano é insistir nas emoções", sentenciaria o chefão. "A senhorita precisa aprender a dominar as suas, do contrário não vai parar em emprego algum.” Emoções seriam justa causa.
Em “1984”, o 'profeta Orwell' – um Nostradamus rebelde – conta a história de uma sociedade que é monitorada o tempo todo pela figura do “Grande Irmão”. Quem vive nela passa por uma lavagem cerebral ininterrupta e não possui qualquer direito individual. Liberdade, democracia e distribuição do poder são coisas do passado, de tempos em que predominava um regime classificado malévolo e desordenado.
Se você não leu, leia porque é uma viagem. Aproveita e lê também “Admirável mundo novo”, de Aldous Huxley – um Nostradamus lisérgico. Se a engenharia genética cai na mão de algum insano neonazista, tudo o que pode acontecer está descrito na obra de Huxley. Aí, meu bem, só a base de Soma.