Não fui à sabatina da Folha com José Saramago, mas li o resumo publicado na Ilustrada de sábado passado. De tudo o que ele disse, de tudo o que ele pensa, um trecho me martela a cabeça há uma semana. É forte e angustiante. E definitivo. Definitivo – será?
“Se ainda fosse só a guerra, em que as pessoas se enfrentam ou são obrigadas a se enfrentar... Mas não é só isso. Essa raia que no fundo há em mim, uma espécie de raiva às vezes incontida, é porque nós não merecemos a vida. Não a merecemos. Não se percebeu ainda que o instinto serve melhor aos animais do que a razão serve ao homem. O animal, para se alimentar, tem que matar o outro animal. Mas nós não, nós matamos por prazer, por gosto. (...) Não usamos a razão para defender a vida, usamos a razão para destruí-la de todas as maneiras – no plano privado e no plano público.”
José Saramago, 86, prêmio Nobel de Literatura em 1998 S.P., 28/11/2008
A maior parte das gaivotas não se preocupa em aprender mais do que os simples fatos do vôo -- como ir da costa à comida e voltar. Para a maioria, o importante não é voar, mas comer. Para esta gaivota, contudo, o importante não era comer, mas voar. Antes de tudo o mais, Fernão Capelo Gaivota adorava voar.